Embora todos os problemas de pele aparentem ser superficiais por natureza, na perspectiva ayurvédica, a pele é um reflexo do interior. Os problemas de pele só muito raramente se devem ao contacto com substâncias ou corpos estranhos; são, na realidade, o resultado de um desequilíbrio mais profundo – sendo, portanto, ineficaz tratar o sintoma por si só.
Em vez disso, o Ayurveda vai mais fundo, para além da superfície da pele, para identificar e tratar as causas na base do desequilíbrio – uma abordagem mais demorada mas que proporciona resultados mais duradouros.
A influência de Pitta na pele
De acordo com o Ayurveda, Pitta exerce uma enorme influência na pele: é responsável pela cor, textura e temperatura da pele, assim como pelo seu brilho; comanda a função de sudação, processa tudo o que é aplicado externamente na pele (óleos, loções, sabões, medicamentos, …) e digere tudo o que entra em contacto com a pele de forma passiva (pós, químicos, substâncias irritantes e alergenos).
É também importante referir que a inflamação – em qualquer parte do corpo, é quase sempre um indicador de Pitta em desequilíbrio. A pele é um dos principais pontos de permanência de Pitta no organismo- o que a torna não só mais vulnerável a desequilíbrios de Pitta, mas também num ponto de manifestação activa. Por esta razão, o equilíbrio sistémico de Pitta é a solução a longo prazo para uma pele saudável.
Manifestações de Pitta no organismo
Pitta tem também uma presença significativa no sangue, no fígado e no tracto digestivo – tendo todos eles um impacto directo na pele. Aliás, Pitta exacerbado em qualquer um destes pontos tem um impacto amplificado na pele. (…) Sempre que há excesso de calor, excesso de oleosidade, alimentos mal digeridos, desperdício celular, excesso de Vata, de Pitta ou de Kapha e acumulação de toxinas (ama) no organismo, a pele assume o papel de orgão de eliminação – um veículo para eliminar estas forças disruptivas do organismo. À medida que tal acontece, qualquer um destes problemas se pode manifestar: acne, urticária, eczema, comichão, ardor, dermatite, psoríase, feridas, hematomas, etc.
O Verão, um factor de desequilíbrio
O Ayurveda ensina-nos que semelhante aumenta semelhante. O Verão é, decididamente, uma estação Pitta, uma vez que as qualidades da Natureza durante o Verão reflectem as qualidades de Pitta: há mais luz, mais calor e mais intensidade no ambiente durante os meses de verão, o que aumenta a probabilidade de agravamento de Pitta nesta estação do ano. É ainda importante referir que, durante o calor do Verão, o agni (fogo digestivo) diverge do tracto digestivo e dispersa-se na corrente sanguínea – mantendo o centro do organismo mais fresco; o que significa que, por outro lado, há mais calor e mais intensidade na corrente sanguínea durante a estação estival. Estes dois factores em conjunto fazem do sangue e da pele dois locais de manifestação de Pitta por excelência, durante o Verão.
A experiência emocional
Por último, é importante lembrar que a pele é fortemente influenciada pelos padrões do corpo energético e emocional – stress, medo, raiva, etc.(…) Emoções “quentes” como fúria, raiva, inveja, muito provavelmente irão exacerbar a inflamação da pele, pelo que devem ser tidas em consideração. (…)
Os “suspeitos do costume”: causas habituais na base de desequilíbrios da pele
- sistema digestivo
- sangue
- fígado
- desequilíbrio de Vata, Pitta, Kapha
- distúrbios emocionais
- estação do ano
Do exposto atrás resulta uma mensagem clara: grande parte dos problemas da pele tem origem no interior do organismo – devido a desequilíbrios digestivos, fragilidade dos orgãos associados ou excesso de calor e de toxicidade (ama) circulando no sangue, sendo que todos estes factores são facilmente exacerbados por influências sazonais e emocionais. O que podemos fazer para repor o equilíbrio?
Apoio geral a Pitta
Dada a relação estreita entre Pitta, a pele e outros pontos internos de Pitta e inflamação, as medidas gerais de pacificação de Pitta proporcionam frequentemente uma ajuda essencial quando estamos perante condições inflamatórias. (…)
Na dieta
Escolhas simples, que privilegiem alimentos adequados e contribuam para uma boa digestão são essenciais para equilibrar Pitta, evitando a acumulação de toxinas no organismo. Quando Pitta está exacerbado, parte da solução consiste em optar por uma dieta pacificadora de Pitta – a qual passa pela ingestão de chá de funcho e cominho, refeições leves e frescas ou por um detox (kitchari); devem ser evitados alimentos picantes, amargos ou ácidos, álcool, chocolate, os quais promovem a inflamação da pele.
Rotina diária
Pitta beneficia de um sentimento de rotina, por isso a adopção de horários regulares pode ajudar a acalmar a mente e o corpo, contribuindo para a manutenção do equilíbrio. Horários de refeição regulares, levantar antes ou ao nascer do sol, deitar cedo (por volta das 22 horas) são hábitos benéficos para Pitta.
O elemento Pitta está muito activo na atmosfera a meio do dia, tipicamente entre as 10 e as 14 horas, o período mais quente do dia. O exercício físico aumenta o calor e poderá facilmente aumentar Pitta – por esta razão, aquela não é a melhor hora para praticar exercício físico. Para tal, o horário mais adequado será de manhã cedo ou à tarde (respectivamente entre as 6 as 10 da manhã ou da noite), o que irá proporcionar maior força e vigor. (…)
Plantas que são benéficas para a pele
Curcuma longa – Quando a pele está inflamada esta planta é um poderoso aliado, graças, por um lado, à sua acção calmante e desintoxicante e, por outro, à sua forte afinidade com o sistema digestivo, o fígado, o sangue e a pele. Esta planta pode ser consumida em extracto ou incorporada nos cozinhados.
Azadirachta indica (neem) que apoia a saúde da pele.
Bacopa monnieri, sinónimo botânico de Herpestis monnieri (brahmi)
Rubia cordifolia (manjishta), que ajuda a remover toxinas do sangue e a manter uma boa compleição. Ajuda a manter a pele calma e confortável.
e outras fórmulas que apoiam o sistema digestivo, como o composto Triphala.
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Artigo original de Melody Mischke, Terapeuta de Ayurveda e Professora de Yoga, publicado originalmente no website Banyan Botanicals, que poderá ler integralmente (em inglês) aqui